Pesquisa e Inovação

Qualidade do ar nas vias de BH está fora dos padrões da OMS

Mapeamento da poluição atmosférica na capital mineira realizado por pesquisador do IGC é tema do novo episódio do podcast ‘Aqui tem ciência', da Rádio UFMG Educativa

Rua Padre Eustáquio, na região Nororeste de BH, apresentou maior concentração de poluentes
Rua Padre Eustáquio, na região Noroeste de BH, apresentou maior concentração de poluentes Foto: BH Trans/Divulgação

Belo Horizonte tem mudanças significativas nos índices de qualidade do ar nas diferentes estações do ano. A análise de diversas vias da capital durante o inverno mostrou variações acima dos índices estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A Rua Padre Eustáquio, na região Noroeste, foi a que apresentou maior concentração de poluentes, segundo medições realizadas em pesquisa desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Geografia do Instituto de Geociências (IGC) da UFMG.

“Todas as vias analisadas ficaram acima dos 45 microgramas por normal metro cúbico [parâmetro adotado pela OMS]. A avenida Amazonas, por exemplo, teve média de 65. Na Nossa Senhora do Carmo, o resultado foi 69, mesmo da Silva Lobo e da Barão Homem de Melo. A rua Padre Eustáquio foi a que apresentou maior concentração, 78; a Antônio Carlos, 69, e o Anel Rodoviário, 57”, detalha o climatologista Alceu Raposo Júnior, autor do trabalho.

Para realizar o mapeamento da poluição ambiental – e, simultaneamente, testar a efetividade de um equipamento de baixo custo –, o pesquisador utilizou uma estação de qualidade do ar automática e móvel. O equipamento possibilitou que a captação de dados fosse feita com segurança durante o deslocamento de carro pelas vias de BH.

 “A estação tem uma ‘bombinha’ que puxa o ar para dentro do sistema. Lá dentro, há uma câmera óptica, a laser, e à medida que o ar atmosférico puxado passa por essa leitura a laser, o equipamento consegue contar o número de partículas e registrar o valor”, explica Júnior.

Bolsões
Na análise, o pesquisador notou a interferência do planejamento urbano na concentração de poluentes. “Uma via com elevada circulação, como a avenida Antônio Carlos, mas que sofreu um processo de intervenção e de urbanização, com o alargamento das suas faixas e o distanciamento maior das edificações, proporciona uma qualidade do ar ainda boa em relação a outras ruas, como a Padre Eustáquio, uma rua pequena, com edificações muito próximas, congestionando a circulação de veículos”, compara. Segundo ele, quando os automóveis circulam em baixa velocidade, os possíveis engarrafamentos pioram a concentração de poluentes naquela via. Por outro lado, vias com maior faixa de rolamento e velocidade de tráfego propiciam melhor dispersão das emissões.

O pesquisador destaca que o mapeamento da poluição atmosférica em Belo Horizonte revela piora na qualidade do ar durante o inverno. “Nesta estação, Belo Horizonte é recoberta por bolsões de poluição, em razão da baixa eficiência da atmosfera em conseguir retirar esses poluentes”, diz.

O autor enfatiza a relevância da pesquisa ao sugerir uma alternativa de baixo custo para medir a poluição nas áreas urbanas. “O legado dessa tese que a UFMG deixa para a sociedade envolve a utilização dessa metodologia em outras cidades e a continuidade desses trabalhos por meio de estudos de baixo custo”, encerra Alceu.

O trabalho foi orientado pelo professor Wellington Lopes Assis, do Departamento de Geografia.

Saiba mais sobre o estudo no episódio 208 do Aqui tem ciência:

Alceu Raposo: BH é recoberta por bolsões de poluição no inverno
Alceu Raposo: BH é recoberta por bolsões de poluição no inverno Foto: acervo pessoal

Raio-x da pesquisa

Título: Mapeamento da poluição atmosférica urbana por meio de sensores automáticos móveis: uma proposta metodológica para avaliação e identificação de bacias atmosféricas, ilhas de poluição, bacias aéreas, bolsões de poluição e hotspots
Autor: Alceu Raposo Júnior
Programa de pós-graduação: Geografia
O que é: tese de doutorado que apresenta o mapeamento da poluição atmosférica da cidade de Belo Horizonte por meio de estações de qualidade do ar automáticas e móveis. A pesquisa testou a hipótese de que a circulação de veículos nas grandes cidades, especialmente em áreas de maior concentração de tráfego/engarrafamento e de edificações, é favorável à manutenção de fenômenos como “bacias atmosféricas”, “ilhas de poluição” ou “bacias aéreas”. Os resultados demonstram variações na qualidade do ar entre as estações de inverno e verão.
Orientador: Wellington Lopes Assis
Ano da defesa: 2024

O episódio 208 do podcast Aqui tem ciência tem produção e apresentação de Hugo Rezende, edição de Alessandra Ribeiro e trabalhos técnicos de Cláudio Zazá. O programa é uma pílula radiofônica sobre estudos realizados na UFMG e abrange todas as áreas do conhecimento. A cada semana, a equipe apresenta os resultados de uma pesquisa desenvolvida na Universidade. 

O Aqui tem ciência vai ao ar na frequência 104,5 FM (na Região Metropolitana de Belo Horizonte) e na página da emissora, às segundas, às 12h45, com reprises às quartas, às 17h45, e pode ser ouvido também em plataformas de áudio como Spotify e Amazon Music.