Em visita à UFMG, embaixadores da União Europeia conhecem projeto SeloVerde
Ferramenta concebida na Universidade usa dados públicos e análise geoespacial para rastrear produção agropecuária

Uma missão de embaixadores de países da União Europeia (UE) esteve hoje (26 de setembro) na UFMG para encontro com a reitora Sandra Regina Goulart Almeida e representantes de outras universidades mineiras. Eles também foram apresentados ao projeto SeloVerde, concebido na UFMG, que integra dados públicos e aplica análises geoespaciais para prover de modo transparente a rastreabilidade da produção agropecuária e combater o desmatamento ilegal.
A comitiva integrada pela embaixadora da UE, Marian Schuegraf, e os embaixadores de 17 Estados-membros do bloco tiveram também reuniões com representantes do governo do estado e da prefeitura de Belo Horizonte, entre outras autoridades.

Sandra Goulart ressaltou que a UFMG está pronta para contribuir para o incremento da cooperação entre Minas e a União Europeia e manifestou a disposição de “aprofundar as parcerias com os países do bloco e expandir o intercâmbio e projetos conjuntos para aqueles com os quais a Universidade ainda não mantém relações”.
O diretor de Relações Internacionais da UFMG, Aziz Saliba, apresentou números das parcerias com os países da UE – informou, por exemplo, que a Universidade mantém acordos com 181 instituições do bloco e que, dos 400 estudantes enviados para intercâmbios no exterior em 2024, 260 foram para países da UE.

Marian Schuegraf disse que a visita foi uma ótima oportunidade de conhecer melhor a UFMG e o projeto SeloVerde. “A Europa está comprometida com legislação e metas ambiciosas na área de sustentabilidade para as próximas décadas e busca formas de obter dados de base científica, com alto grau de confiabilidade. O SeloVerde tem grande potencial de nos dar segurança de que a carne e outros produtos que compramos não tenham sido produzidos à custa de desmatamento”, afirmou a diplomata alemã. A União Europeia financiou etapas do desenvolvimento do instrumento criado por pesquisadores da UFMG.
O embaixador da Holanda, Aldrik Gierveld, afirmou que "vivemos hoje em uma vila global”, e a Europa precisa trabalhar na cooperação científica com a América do Sul. “Há muita informação falsa sobre temas como as mudanças climáticas, que, ao contrário do que disse nesta semana o presidente dos EUA, Donald Trump, são reais, tangíveis. É preciso combater essas fake news com fatos e números”, enfatizou Giervel. Segundo ele, a embaixada da Holanda no Brasil conta com equipe dedicada especialmente aos esforços pela conciliação entre agropecuária e sustentabilidade.
'Separar o joio do trigo'
Os embaixadores da União Europeia conheceram em mais detalhes o SeloVerde na sede do Centro de Sensoriamento Remoto (CSR), localizado no Instituto de Geociências da UFMG. A ferramenta tecnológica, desenvolvida inicialmente com o governo do estado do Pará e depois com Minas Gerais, hoje está presente também no Espírito Santo. A plataforma integra informações relacionadas à trajetória do gado até a exportação, desmatamento, multas e embargos, entre outros, para informar o comprador sobre a origem do produto. Por meio de análise de probabilidades, é possível detectar, por exemplo, que gado de origem legítima foi misturado em fazenda que não cumpre as regras de produção sem desmatamento.

“O sistema possibilita separar o joio do trigo, é uma resposta robusta às determinações legais da União Europeia”, afirma o professor Raoni Rajão, da Escola de Engenharia, um dos responsáveis pelo desenvolvimento do SeloVerde. “A ferramenta é 100% gratuita, valoriza a produção e gera ganhos econômicos com preservação do meio ambiente", garante. A plataforma foi concebida em parceria com o Centro de Inteligência Territorial.
Ainda segundo Rajão, que coordena o Centro de Tecnologia em Modelagem Ambiental da UFMG e dirige o Departamento de Políticas de Controle do Desmatamento e Queimadas do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, a UE aposta em tecnologias inovadoras e começou em 2022 a aportar recursos na expansão do projeto. Estão em andamento trocas de informações entre cientistas brasileiros e fiscais e compradores europeus. Acre, Tocantins e Maranhão deverão ser os próximos estados a adotar o SeloVerde como ferramenta oficial que utiliza tecnologia fornecida pela UFMG.
De acordo com texto publicado no site do SeloVerde MG, a plataforma disponibiliza estimativas da produção agropecuária e adequação ambiental por parte de propriedades rurais com registro no Cadastro Ambiental Rural (CAR). A plataforma usa a tecnologia mais avançada e os dados cartográficos mais precisos disponíveis para avaliar a conformidade ao Código Florestal das propriedades rurais; prover rastreabilidade transparente dos fornecedores de produtos agropecuários; integrar informações e dados geoespaciais atualizados de órgãos federais e estaduais; auxiliar a regularização ambiental e fundiária e identificar a ocorrência de desmatamento não autorizado.
Estiveram na UFMG diplomatas de Alemanha, Áustria, Bélgica, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Finlândia, Grécia, Irlanda, Itália, Lituânia, Luxemburgo, Países Baixos, Polônia, Portugal, Suécia, República Tcheca e União Europeia. O evento teve a presença também de autoridades dos governos do estado de Minas Gerais e da cidade de Belo Horizonte, entre outras.

