Institucional

Seminário debate implicações éticas da incorporação da IA à vida acadêmica

Serão apresentados, na próxima quinta-feira, os principais resultados de consulta sobre o tema da qual participaram mais de 2 mil pessoas da comunidade universitária

Inteligência artificial é destaque em série de seminários na UFMG
Proposto pela Comissão Permanente de Inteligência Artificial da UFMG, ciclo de seminários tem a missão de estabelecer parâmetros e orientar o uso da IA no ensino superior Imagem: Pixabay

Nesta quinta-feira, 11, durante todo o dia, será realizado, no auditório da Reitoria,  o seminário Inteligência artificial, ética e Universidade, que discutirá formas de integrar a tecnologia da inteligência artificial às práticas acadêmicas e administrativas da UFMG de forma responsável. O seminário desta semana é o primeiro de uma série de encontros que serão realizados no decorrer do semestre. As inscrições podem ser feitas por meio deste link.

Proposto pela Comissão Permanente de Inteligência Artificial da UFMG, o ciclo de seminários tem a missão de estabelecer parâmetros e orientar o uso da inteligência artificial no ensino superior, incentivando pesquisas, ações de capacitação e parcerias estratégicas. O ciclo é o primeiro evento de grande porte realizado pela comissão, que foi oficializada no ano passado, após discussões iniciadas em 2023.

Relatório
Um dos destaques será a apresentação, às 10h30, do relatório referente à consulta realizada junto à comunidade acadêmica no primeiro semestre, entre maio e junho, que propiciou entender como a comunidade universitária utiliza a IA em suas práticas cotidianas. Os resultados da consulta vão subsidiar a construção da Política de Inteligência Artificial da UFMG, principal meta da comissão. As conclusões do documento serão apresentadas pela professora Patrícia Nascimento, da Escola de Ciência da Informação, responsável pela coordenação de sua produção.

“Não se trata de elaborar um documento que crie regras sobre o que pode e o que não pode ser feito quando falamos de IA. É mais do que isso; é pensar como lidamos com esse cenário e com o tratamento coletivo dos dilemas que professores, estudantes e demais membros da comunidade universitária enfrentam ao fazer uso de IA", comentou o professor Ricardo Fabrino, presidente da comissão, na época da consulta.

“Em termos de atividades [em] que os discentes utilizam a IA, com maior frequência estão as atividades de escrita acadêmica, correção e revisão de textos, pesquisa e obtenção de dados, produção de sínteses e tradução”, afirma-se no relatório que será apresentado. “Nas atividades que os docentes utilizam, apesar de algumas semelhanças com os discentes, uma das atividades com maior frequência é a obtenção de dados, com pesquisas específicas às ferramentas de IA. Para os técnicos-administrativos e terceirizados, também é frequente a obtenção de dados, correção de textos e tradução”, anota-se.

Mais de 2 mil pessoas participaram da pesquisa, entre estudantes, professores e servidores técnico-administrativos, numa demonstração de grande engajamento da comunidade universitária. A grande área das Humanidades foi a que teve o maior interesse e participação. No seminário, serão detalhados os resultados obtidos pelo levantamento, com a apresentação dos pontos positivos e negativos  apontados pela comunidade, no que diz respeito à atual mobilização da inteligência artificial em suas atividades diárias.

Desafios
A abertura, às 9h, será feita pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida e pelo presidente da Comissão Permanente de Inteligência Artificial da Universidade, Ricardo Fabrino, que é professor do Departamento de Ciência Política da Fafich. Em seguida, às 9h20, o professor emérito Virgílio Almeida, vinculado ao Departamento de Ciência da Computação (DCC), fará a palestra Desafios éticos e sociais da inteligência artificial na ciência, com mediação de Dorgival Guedes, também professor do Departamento de Ciência da Computação e diretor de Tecnologia da Informação da UFMG.

Após a conferência de abertura do seminário, haverá palestras sobre IA feitas por especialistas da UFMG oriundos de diferentes áreas. Elas tratarão, por exemplo, do uso da tecnologia na produção de conhecimento e, especificamente, nas pesquisas das áreas da saúde e das humanidades, assim como dos aspectos éticos e sociais relacionados ao tema, como as questões dos direitos autorais e dos gastos energéticos necessários para a produção dos resultados.

No evento, também serão discutidos aspectos mais organizacionais e administrativos da UFMG em face da inteligência artificial, como experiências iniciais de seu uso em sistemas de gestão universitária. Além disso, Ricardo Fabrino falará sobre o trabalho realizado pela comissão até o momento. Um dos resultados desse trabalho é um Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) focado nos temas da IA.

"A comissão realizou um primeiro levantamento de atividades de outras instituições e fez um primeiro documento de recomendações em 2024. Desde então, configurou-se como comissão permanente com o papel de alimentar uma discussão mais contínua sobre os impactos da IA na Universidade. O grupo também estruturou um PDI sobre o tema e está organizando essa série de eventos e um livro, além de dialogar com as unidades acerca das diferentes consequências do emprego de IA no ensino, na pesquisa, na extensão e na administração universitária", explica Fabrino.

Hugo Valadares, do MCTI: IA para transformar realidades complexas
Hugo Valadares, do MCTI: IA para transformar realidades complexas Foto: Luara Baggi | MCTI

O plano de brasileiro de IA
A conferência de encerramento será feita pelo diretor do Departamento de Ciência, Tecnologia e Inovação Digital (DECTI) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Hugo Valadares. Doutor em engenharia elétrica e professor da graduação e da pós-graduação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), ele vai tratar do plano brasileiro de inteligência artificial. O diretor tem larga experiência em temas como previsão de séries temporais, mineração de dados e inteligência artificial aplicada a diferentes setores, incluindo energia renovável, pesquisa operacional e saúde.

Hugo Valadares também coordena o Grupo Interdisciplinar de Inteligência Computacional (Gidic) e o Laboratório de Inteligência Computacional e Controle Avançado (Licon) da UTFPR. Sua experiência em projetos que envolvem inteligência artificial, análise de dados e otimização coloca-o “em uma posição estratégica para impulsionar a agenda de ciência digital e suas aplicações em diferentes setores”, conforme anotou o MCTI em matéria que noticiou sua nomeação em abril deste ano.

Na mesma notícia, Hugo Valadares explicou que o papel da ciência é reconfigurar sistemas, não apenas aperfeiçoá-los. “É hora de usar a inteligência artificial e a computação avançada para transformar realidades complexas – das cidades aos ecossistemas digitais. A inovação nesses temas precisa ser prioridade para o Brasil ocupar posição relevante no mundo”, disse o diretor à publicação.

O MCTI afirma ter a expectativa de que a diretoria de Hugo Valadares centralize, no âmbito governamental, as discussões relacionadas à questão da inteligência artificial. Como ação prioritária, informa-se, a diretoria deverá ajudar na implementação do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) 2024-2028, que visa transformar o país em referência mundial em inovação e eficiência no uso da inteligência artificial – em especial, no setor público.

Programação

9h – Abertura
Palestrantes: Sandra Regina Goulart Almeida, reitora, e Ricardo Fabrino, presidente da Comissão

9h20 – Conferência de abertura
Desafios éticos e sociais da inteligência artificial na ciência
Conferencista: Virgílio Almeida, do Departamento de Ciência da Computação

10h30 – Primeira mesa
Inteligência artificial na UFMG
Mediação: Fábia Lima, do departamento de Comunicação Social

Palestra: O futuro da Universidade e a Comissão de Inteligência Artificial
Palestrante: Ricardo Fabrino, do Departamento de Ciência Política

Palestra: A escuta da comunidade acadêmica da UFMG
Palestrante: Patrícia Nascimento, da Escola de Ciência da Informação

Palestra: A IA na gestão universitária a partir da experiência da Fundep
Palestrante: Walmir Caminhas, da Escola de Engenharia

14h – Segunda mesa
Inteligência artificial, pesquisa e cooperação internacional
Mediação: Geane Alzamora, do Departamento de Comunicação Social

Palestra: O impacto da IA sobre a pesquisa
Palestrante: Wagner Meira, do Departamento de Ciência da Computação

Palestra: IA e a pesquisa na área de saúde
Palestrante: Antônio Ribeiro, da Faculdade de Medicina

Palestra: IA e a pesquisa nas humanidades
Palestrante: Patrícia Kauark, do Departamento de Filosofia

15h30 – Intervalo para o café

16h – Terceira mesa
Inteligência artificial, ética e autoria
Mediação: Vilma Macagnan, do Departamento de Geografia

Palestra: Ética e pesquisa com inteligência artificial
Palestrante: Zilma Reis, da Faculdade de Medicina

Palestra: Questões autorais e inteligência artificial
Palestrante: Marco Antônio Alves, da Faculdade de Direito

Palestra: IA e produção de conhecimento
Palestrante: Ernesto Perini, do Departamento de Filosofia

18h – Conferência de encerramento
O plano brasileiro de inteligência artificial
Conferencista: Hugo Valadares, diretor do MCTI

[Atualização em 8/9/2025, às 15h15. Esse texto foi alterado em razão de mudanças na programação.]

Ewerton Martins Ribeiro